Dia Mundial Sem Tabaco 2010
«O tabaco e o género com ênfase no marketing para mulheres» é o tema da campanha promovida pela Organização Mundial de Saúde para o Dia Mundial Sem Tabaco 2010 que se assinala esta segunda-feira, 31 de Maio, cujo o objectivo é sensibilizar a população feminina para os efeitos nocivos do consumo de tabaco e promover a restrição de publicidade e patrocínio do tabaco nos países que integram a Convenção-Quadro para o Controlo do Tabaco. A ARS Algarve, IP associa-se às comemorações com a divulgação de um cartaz, pelos diversos serviços de saúde da região, intitulado «Um Amor envenenado, não se deixe enganar».
«O tabaco e o género com ênfase no marketing para mulheres» é o tema da campanha promovida pela Organização Mundial de Saúde para o Dia Mundial Sem Tabaco 2010 que se assinala esta segunda-feira, 31 de Maio, cujo o objectivo é sensibilizar a população feminina para os efeitos nocivos do consumo de tabaco e promover a restrição de publicidade e patrocínio do tabaco nos países que integram a Convenção-Quadro para o Controlo do Tabaco. A ARS Algarve, IP associa-se às comemorações com a divulgação de um cartaz, pelos diversos serviços de saúde da região, intitulado «Um Amor envenenado, não se deixe enganar».
CONSUMO DE TABACO
De acordo com estimativas da OMS, morrem anualmente cerca de 5 milhões de pessoas de todo o mundo em consequência do consumo de tabaco e se não forem instituídas medidas efectivas de prevenção e controlo, dentro de 20 a 30 anos assistiremos à morte anual de cerca de 10 milhões de pessoas a nível mundial.
De um modo geral as taxas de consumo de tabaco decresceram acentuadamente a partir da segunda metade dos anos 60, mas de forma desigual entre homens e mulheres. Essas taxas no sexo feminino tiveram apenas um ligeiro decréscimo, sugerindo que elas não estão a responder da mesma forma que os homens às mensagens das campanhas promotoras da saúde, no que concerne ao consumo de tabaco. A epidemia do tabaco está a desviar o seu foco dos homens nos países ricos, para os homens nos países em desenvolvimento e mulheres em países desenvolvidos e em desenvolvimento.
As diferentes histórias do consumo de tabaco entre homens e mulheres reflectem os diferentes constrangimentos socioculturais que, em épocas diferentes e em países diferentes, desencorajavam o uso de tabaco pelas mulheres. Contudo, em muitos países, esses constrangimentos enfraqueceram e a prevalência de consumo de tabaco aumentou entre as mulheres, frequentemente acelerada pelas campanhas publicitárias agressivas, dirigidas directamente às raparigas e mulheres.
O consumo de tabaco em Portugal reflecte essa tendência. Segundo os dados do Inquérito Nacional de Saúde (INS), referidos pelo Alto Comissariado da Saúde, em 1998/9, na faixa etária dos 15-24 anos, verificava-se uma grande diferença entre a percentagem de homens e a de mulheres que fumava diariamente, sendo esta última inferior. No entanto, em 2005/2006, registou-se uma tendência de aproximação dos valores de ambos os sexos, pois o número relativo de fumadoras femininas (34%) foi muito superior ao de fumadores do sexo masculino (0.8%). No estudo prevalência realizado pela Direcção Geral de Saúde em 2008 e na população de idade superior a 15 anos verifica-se a mesma situação. Se se comparar esses dados com os do INS de 2005/2006 observa-se um decréscimo de consumo de tabaco em ambos os sexos, só que esse decréscimo foi muito menor nas mulheres (0.6% nas mulheres e 7.6% nos homens).
TABACO E SAÚDE NO FEMININO
Os efeitos adversos para a saúde do consumo do tabaco são universais relativamente ao risco de cancro e doença cardíaca e estes riscos diminuem com a cessação tabágica. No entanto, para as mulheres, o facto de fumar acarreta riscos únicos de cancro nomeadamente do aparelho reprodutor.
Vários estudos demonstraram que fumar durante a gravidez aumenta o risco de complicações tanto para a mãe como para o feto de aborto, como complicações da gravidez, parto prematuro, baixo-peso à nascença, síndrome de morte súbita, nado morto. Adicionalmente, o fumar das mães pode afectar a saúde dos seus filhos que tipicamente passam a maioria das horas em que estão despertos na sua proximidade. O consumo de tabaco pelas mulheres está, também associado ao aumento do risco de infertilidade e osteoporose.
As mulheres que usam contraceptivos orais e que fumam têm um significativo aumento do risco de doença cardíaca relativamente às que não fumam.
PUBLICIDADE DIRIGIDA ÀS MULHERES
A indústria tabaqueira tem uma longa história de desenvolvimento de marcas de cigarros e de campanhas publicitárias dirigidas às mulheres e adolescentes do sexo feminino com consequências devastadoras para a sua saúde.
As companhias que comercializam produtos de tabaco, estão actualmente a repetir e actualizar temas que são comuns na longa história de campanhas de promoção do consumo de tabaco dirigidas ao género feminino.
No início do século XX eram raras as mulheres que fumavam, era considerado “feio” ou “imoral”, mas na década de 20 o número de fumadoras começou a crescer depois das campanhas que foram implementadas e que se destinavam especificamente a este grupo. Estabelecendo um padrão que se mantém, o mercado de tabaco resolveu explorar as aspirações e preocupações sociais das mulheres e jovens do sexo feminino para lhes vender um produto mortal. Desde o início, a publicidade ao tabaco cuja população alvo eram as mulheres, pretendeu ligar o fumar à elegância e controlo do peso, temas particularmente sensíveis para as adolescentes.
Durante a segunda Guerra Mundial a indústria tabaqueira começou a direccionar as suas campanhas para as mulheres ainda de uma forma mais agressiva, usando a moda, beleza, sofisticação, sucesso e inteligência. São os mesmos temas a que recorre na actualidade.
As mulheres como alvo das campanhas publicitárias do tabaco atingiram novos níveis nos finais da década de 70, quando o mercado de tabaco masculino começou a declinar. Foram criados os primeiros cigarros especificamente para mulheres, apropriando-se dos temas e objectivos dos movimentos de libertação das mulheres – independência e empowerment, liberdade, emancipação, poder, para vender um produto que através da adição, doença e morte causa o efeito oposto.
Conforme os estudos comprovavam quais as consequências de fumar e a consciência acerca do risco de fumar crescia, as companhias tabaqueiras começaram a comercializar cigarros light e de baixo teor em alcatrão, explorando a crença das mulheres de que são opções mais suaves e seguras. A verdade é que o cigarro é um sistema dispensador de nicotina cuidadosamente desenhado.
A luta da indústria tabaqueira contra o banir da publicidade ao tabaco e o dinheiro investido em “materiais promocionais”, tais como isqueiros, espelhos de maquilhagem, bolsas para cigarros, etc., que são projectados para atrair jovens, mulheres e até crianças, são testemunho da eficácia que as campanhas publicitárias têm na manutenção dos lucros elevados. A utilização de nomes das marcas de tabaco para patrocinar eventos desportivos, culturais e de moda é também parte da mesma estratégia que relaciona divertimento, saúde e entretenimento ao fumar, dirigindo-se também, ao mercado mais lucrativo a longo prazo, os jovens. A publicidade aos produtos do tabaco em revistas é suficiente para que, se lá estiver um artigo sobre os malefícios do seu consumo, esse artigo seja desvalorizado e até esquecido.
O aumento do tabagismo pode ser travado através da adopção de políticas e programas que já provaram ser eficazes na sua redução: restringir a publicidade, adoptar avisos de risco para a saúde eficazes, aumentar o preço e diminuir a acessibilidade aos produtos do tabaco, incrementar a protecção contra a exposição ambiental ao fumo e proporcionar a educação para a saúde efectiva da população e realizar campanhas publicitárias que contrariem as que são realizadas pela indústria tabaqueira. Desta forma é possível prevenir a previsível epidemia de doenças e mortes associadas ao consumo do tabaco nas mulheres em todo o mundo.
Contrariar a ideia de fumar e Proteger e Promover a saúde das mulheres é crucial para a saúde e para o desenvolvimento – não apenas dos cidadãos actuais, mas também para as futuras gerações.
Autoria: Enf. Manuela Soares
Departamento de Saúde Pública da ARS Algarve,IP
